Fui um grande capitão do exército da Síria. Recebi muitas homenagens pelos meus feitos heroicos e por minha dedicação e obediência ao rei. Fui um homem valoroso e destemido, temido pelos inimigos e admirado por todo o meu povo, mas um dia me vi como o mais desprezível ser da terra quando fui acometido de uma doença assustadora chamada lepra.
A partir de então, vivia cabisbaixo e já não sentia prazer em viver. Por mais que os escribas passassem horas escrevendo sobre o mais relevantes atos praticados nas guerras vencidas, não via prazer em nada e queria mesmo me encontrar com a morte.
Certa manhã, uma menina, que vivia a serviço da minha esposa trazida como escrava das terras de Israel, disse a ela que havia um profeta em Samaria capaz de me curar; naquele dia, toda a minha casa se encheu de esperança, até mesmo o palácio festejou a notícia e o meu rei enviou uma carta ao rei de Israel fazendo esse pedido e entregando ao mensageiro também dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupas para presenteá-lo, porém quando Jorão recebeu a carta rasgou suas vestes de temor e todo o seu reino soube que ele mesmo não cria no Deus que serviam.
Na Síria, pensamos logo em invadir e matar o rei covarde e cortar a cabeça da escravinha petulante que ousou nos enganar, no entanto, o profeta Eliseu nos dissuadiu quando disse a Jorão que me enviasse até ele, pois era homem de Deus e o Todo-Poderoso me curaria.
No mesmo instante parti com cavalos e meu carro até à casa do tal profeta, mas estranhei o fato de não ter ido pessoalmente receber um nobre capitão Sírio, homem ilustre e reverenciado como eu, ao invés disso, mandou apenas um recado por seu empregado dizendo pra eu mergulhar sete vezes no rio Jordão e receberia a cura.
Minha ira novamente se acendeu!
Como um reles israelita se recusa a vir até minha presença mandando recadinho por um subalterno pra eu me lavar naquelas águas barrentas do Jordão? É muita falta de respeito e ousadia desse profetazinho.
Pensei que ele iria invocar o seu Deus, passar sua mão sobre o lugar das feridas pra restaurar minha saúde e assim ficar livre da lepra. Além de toda essa afronta, por que não me mandou mergulhar no Abana e no Farpar em Damasco, afinal são muito melhores do que todas as águas de Israel...
Minha indignação foi tanto que por pouco não destruí toda aquela cidade por tamanha afronta, mas meus soldados me contiveram e retornei à minha casa inconformado e ardendo em cólera; isso tudo porque eu era um homem muito soberbo, e jamais me humilharia a tal ponto de me lavar naquele rio sujo; só me dei conta do grande erro que cometeria após meus servos me aconselharem me convencendo de que o que o profeta pediu era algo tão simples e eu estava perdendo a oportunidade de ser curado por uma coisa tão banal.
Realmente minha jactância me cegava a tal ponto que não conseguia perceber o grande equívoco que faria; se porventura me pedisse pra fazer uma coisa difícil eu não daria a minha vida pra isso?
Foi então que mergulhei meu orgulho e meu corpo no Jordão conforme a palavra do homem de Deus e na mesma hora fiquei são. Daquele dia em diante, deixei toda minha vaidade ser lavada pelas águas sujas daquele rio e compreendi, quando mergulhei dentro de mim, que a minha altivez é que era imunda e o meu ser era vil...
Foi preciso que meu corpo todo cheirasse mal e ficasse ferido para que a glória do Deus Altíssimo se manifestasse e fizesse nascer um novo Naamã; não só meu corpo foi curado de lepra como o meu eu ressurgiu limpo e regenerado pelo único capaz de operar tamanha maravilha.
Por me transformar de tal forma, eu erigi em minha cidade um altar a Ele e reverenciei Sua presença durante toda a minha vida; e sempre que tivesse que adorar outros deuses por conta do cargo que ocupava Lhe pedia perdão porque eu sabia que só Ele é digno de toda honra e toda glória”[1].
[1] 2 Reis 5:1-19.
[1] 2 Reis 5:1-19.
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