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MORALIDADE CRISTÃ: linha tênue entre fé e moralismo

O assunto em questão é: o quanto a moral cristã, explicitada nas páginas da Sagrada Escritura,

tem se tornado um falso moralismo puramente pragmático e religioso?

 

Há algum tempo venho refletindo sobre o quanto o Evangelicalismo brasileiro tem pecado em sua relação com o Cristo. Não sei se isso é um problema da Igreja no Brasil ou no mundo, não pesquisei isso a fundo, não me dediquei o suficiente a isso. Mas tenho percebido algo que tem me incomodado profundamente nos últimos tempos. Esse incômodo me levou ao desejo de escrever este texto, que tenho pensado em como produzir há algumas semanas e, após longa reflexão, cá estou eu.

 

O assunto em questão é: o quanto a moral cristã, explicitada nas páginas da Sagrada Escritura, tem se tornado um falso moralismo puramente pragmático e religioso?

 

Entenda: eu não questiono os padrões morais exigidos de um cristão. Eles são necessários, válidos e, inclusive, base para boa parte da moralidade ocidental, que tem seus princípios – quer queira, quer não – solidificados sobre a fé cristã. O questionamento que levanto e quero abrir com você, leitor amigo, é o seguinte:

 

onde foi que o comportamento ético e moral exigido na Escritura deixou de ser consequência e fruto da salvação operada pelo Espírito no santo e passou a ser utilizado como elemento demonstrativo de superioridade sobre outros cristãos e até mesmo não-cristãos?

 

O que quero discutir com você, neste artigo, é como passamos a ser meros religiosos com uma lista do que deve e não deve ser feito, que repetem frases de efeito o tempo todo e que, em nome da abominação ao pecado, esqueceram que o Cristianismo se trata muito mais da relação pessoal com o Cristo do que um conjunto de normas sociais.


O Evangelho do Reino, anunciado por Jesus veio para apresentar não somente um código de conduta (embora também o contenha), mas para apresentar uma Pessoa com a qual o ser humano precisa relacionar-se. As atitudes morais corretas são fruto do relacionamento pessoal entre o salvo e seu Salvador, entre o servo e seu Senhor, entre o filho e seu Pai, não apenas atitudes corretas com vistas à autopromoção e aparência de superioridade espiritual.

 

O mote do Evangelho de Jesus se refere a tirar cargas pesadas, ao invés de impô-las;

remover fardos, no lugar de acrescentá-los.

 

O Evangelho do Reino de Deus é a boa noticia de que temos um Senhor, que exige arrependimento e renúncia sim; mas também é a mesma notícia de que temos um amigo com quem contar na caminhada, ao passo em que Ele espera que sejamos melhores, embora entenda nossa natureza difícil, pois sabe que não somos nada mais que pó.


Estatização Eclesiástica

Outro assunto que vem me incomodando recentemente é o quanto os cristãos têm tentado inferir ao mundo todo padrões morais e éticos que são exigidos apenas, e somente, dos cristãos. Na ânsia de ter um país influenciado pelo Evangelho alguns levantam a bandeira da estatização eclesiástica e jogam por terra anos e anos de dedicação protestante ao princípio do Estado Laico.


Eu não sou contra a atuação política de cristãos, muito menos à influência do Evangelho na cultura popular – longe de mim isso! O que me incomoda são os métodos pouco, ou nada, cristãos utilizados na tentativa de fazer o “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” funcionar. Temos visto gente vociferar palavras de ódio aos que vivem uma vida dissoluta aos princípios morais exigidos na escritura, não levando em consideração que aquelas exigências são dadas ao salvo e não a toda humanidade em geral.


O Cristianismo deve sempre trabalhar para a relação estreita entre princípios evangélicos (no sentido radical da palavra) e culturais, mas nunca pela relação estreita entre Igreja e Estado...

 

O Estado não deve forçar nenhuma religião, muito menos seus princípios, a ninguém que não os aceite voluntariamente, uma vez que estes princípios morais da fé cristã são fruto da relação de amor e graça vivenciados na relação pessoal do indivíduo com a Divindade.

 

Sintetizando nosso monólogo filosófico neste artigo digo: a moralidade cristã, útil e necessária como sinal da salvação, quando descolada da relação individual e pessoal com o Cristo deixa de ser moral justa e passa a ser puro moralismo. Ademais, a Igreja foi chamada para ser exemplo de moralidade ao mundo, não o Estado. O Estado tem a função de salvaguardar a ordem e segurança do cidadão, não de legislar moralidade. Isso implica em não impor ao cidadão nenhuma forma de moralidade alternativa à cristã, o que fere o princípio da laicidade. Não estamos aqui querendo defender que o Estado se anule, mas que não imponha a ninguém nenhum princípio (i)moral, que possa ferir a outra (qualquer que seja) forma de enxergar a moralidade que cada cidadão toma para si.


Eric de Moura.


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