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Aprendendo com Ana - Série aprendendo com mulheres

Por toda a sua vida, Ana carregou consigo a esperança naquele que traria a redenção de Jerusalém

O único autor do Novo Testamento que escreveu sobre Ana foi Lucas. As mulheres têm mesmo um lugar de destaque em seu evangelho: são 43 referências! Dentre elas, Ana, a profetisa. Mas o que levou Lucas, e somente ele, a dedicar algumas poucas linhas para escrever sobre ela? A resposta é: o exemplo de dedicação dessa mulher, enquanto esperava pelo Messias. Por isso, vamos refletir alguns minutos na história dela (Lucas 2:36-38).


Por toda a sua vida, Ana carregou consigo a esperança naquele que traria a redenção de Jerusalém (v. 38). Todavia, ela não ficou parada, enquanto aguardava, e por isso é especial. Nós também esperamos pelo Messias. Não pelo seu nascimento, mas por seu regresso. O que fazer, enquanto esperamos esse dia? O exemplo de Ana tem muito a nos ensinar. Enquanto esperamos pelo retorno de Cristo, existem alguns alertas que não podem ser ignorados. Destacaremos três deles, com base no exemplo de Ana.


1. Com Ana, aprendemos a ter uma mente esperançosa.

Ana tinha tudo para ser uma pessoa amarga e rancorosa. Ana teve uma grande decepção, ainda muito nova. Observe, o versículo 36: ... vivera com seu marido sete anos desde que se casara e era viúva de oitenta e quatro anos. As meninas judias, frequentemente, casavam-se muito novas, por volta dos catorze anos, por uma questão cultural[1]. Diferentemente do que acontece em nossos dias, as meninas daquela época não podiam continuar os seus estudos ou ter emprego fora de casa. Por isso, esperavam ansiosamente o dia do casamento. Esse era um dos eventos mais extraordinários na vida delas!


Para Ana, esse dia chegou, mas não durou muito tempo. Com apenas sete anos de casamento, perdeu o marido. Se ela se casou com catorze anos, como geralmente acontecia, estava com vinte e um anos, quando ficou viúva. Uma mulher ainda muito nova para uma decepção tão profunda. Depois deste trágico acontecimento, as coisas não ficariam boas para Ana. A vida de uma viúva, nos dias de Cristo, não era nada fácil. Elas sofriam abandono e exploração.


Apesar de todo esse histórico nada desejável, Ana não se abateu a ponto de parar. Ela não se tornou uma pessoa amarga. Não entregou os pontos. Não se dobrou. Não abandonou o Senhor. A razão? Ela tinha uma esperança! Ela fazia parte do grupo daqueles que esperavam a redenção de Jerusalém (Lc 2:38), daqueles que esperavam o nascimento do Messias! Por isso, os dissabores não tiraram o sabor da sua vida. Ela tinha sempre em mente que, apesar dos pesares, o Messias nasceria! Daí, ao longo dos versículos que narram sua curta história, temos o retrato de uma senhora entusiasta, confiante e ativa! Fez jus ao seu nome e viveu de forma graciosa, já que Ana, significa “graciosa”.

 

Como você tem lidado com os dissabores da vida? Com as circunstâncias adversas? Elas lhe têm feito parar, desistir, jogar a toalha? Não faça isso! É preciso caminhar frente a todas essas situações! Assim como a esperança do nascimento do Messias fazia com que Ana avançasse e esperasse confiante, a esperança no regresso do Messias deve nos impulsionar a continuar frente aos reveses! Essa esperança deve ser nossa bagagem em qualquer circunstância: como um calmante a nos ajudar nas dores; como um andador a nos ajudar nas fraquezas. Jesus voltará: tenha isso em mente!

 

2. Com Ana, aprendemos a servir, sempre!

Ana não esperou pelo nascimento do Messias de forma ociosa. Lucas é bem detalhista em sua narrativa. Ele nos conta exatamente o que Ana ficou fazendo, enquanto esperava. Atente para o que está escrito em sua Bíblia, na segunda parte do versículo 37: Esta não deixava o templo. Se o versículo terminasse aqui, muitas coisas poderiam ser ditas. Mas Lucas faz questão de relatar: ... mas adorava noite e dia em jejuns e orações.

 

Na língua original, a palavra “adorava” é um verbo muito importante, ele traz a ideia de “serviço”. Trata-se de cultuar e oferecer atos de adoração que agradem a Deus. Esse verbo está no tempo presente, e traz o conceito de continuidade, isto é, Ana servia continuamente a Deus.

 

Nunca se esqueça: adoração também é vista no serviço a Deus! Mas não é servir de qualquer maneira, é servir com toda a nossa potencialidade, inteligência, energia, experiência e devoção. Ana servia a Deus com todo o seu tempo.


Ela não deixava o templo. Em nossos dias, talvez a chamassem de “igrejeira” ou, quem sabe, até de “fanática”. Afinal, essa mulher não perdia um culto! Como tem sido a sua participação nos cultos regulares da igreja? Aliás, você tem participado? Cultuar é muito importante. A Bíblia diz: Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima (Hb 10:25). Congregar faz parte do processo da espera! Quando congregamos, fortalecemos a comunhão, encorajamo-nos uns aos outros, podemos desabafar, encontramos apoio, ânimo para continuar! Essa profetisa mantinha também, comunicação diária com o Senhor. Entenda bem: Ana não observava alguns horários de oração, mas orava noite e dia. Tinha uma vida de oração, dedicava-se à oração! A oração fazia parte do seu estilo de vida. A Bíblia também nos alerta a orarmos, enquanto esperamos o Senhor! Orai sem cessar. (...) (1Ts 5:17).


3. Com Ana, aprendemos a compartilhar a Palavra.

Olhe novamente para o versículo 36 do capítulo 2 de Lucas. O texto diz que Ana era uma profetisa. Muito bem, servindo a Deus nessa função, essa mulher estava acostumada com uma tarefa: a proclamação. Aqui, precisamos entender algumas questões. A história de Ana envolve os primeiros eventos da vida de Jesus. Se ela era conhecida como profetisa por aqueles dias, então, já proclamava há algum tempo. O curioso é o seguinte: você lembra o que representam as páginas em branco entre os livros de Malaquias e Mateus, em nossas Bíblias? Acertou quem disse o período de quase 400 anos onde Deus ficou em silêncio. Neste tempo não houve revelação; Deus não falou com seus profetas. Ana é desse período!


Como alguém pode ser profeta numa época em que Deus não falava? Precisamos lembrar que os profetas ou profetisas daquela época eram pessoas que anunciavam a mensagem de Deus baseadas nas Escrituras do Antigo Testamento. Então, Ana era conhecida como uma mulher que fazia declarações abertas sobre o Messias que havia de vir, ou, então, “era alguém que tinha compreensão das Escrituras acima das outras mulheres, e se dedicava a instruir as mulheres mais jovens sobre as coisas de Deus”.[2] O Senhor não ficou sem testemunhas fiéis naquele tempo! Tente, por um momento, imaginar essa senhora proclamando sua grande esperança.

 

Com 84 anos,[3] vestindo-se como as viúvas da época, que “despojavam-se de seus ornamentos, não se penteavam, não ungiam o rosto, e vestiam-se de saco”,[4] ela sempre pregou: “O Messias virá!”. A grande esperança de Ana era encontrar-se com ele. Por muitos anos, ela profetizou, com base na palavra escrita, sobre o messias que havia de vir. Até que um dia, quando chegou para mais um dia normal de serviço no templo, ele estava ali, nas mãos de Simeão! Uma vida toda de espera, uma vida toda de anseio, e, quando o Messias nasceu, ela estava ali, preparada, no lugar certo, na hora certa.

 

Quando viu Cristo, soube que valeu a pena dedicar toda a vida por aquele momento! Percebeu que toda a sua pregação valeu à pena e era, de fato, verdadeira: Chegando na mesma hora, dava graças a Deus, e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém (Lc 2:38). Imagine a felicidade de Ana! É indescritível! É extraordinária! Quem conhece a Cristo, deve espalhar essas boas notícias!


Enquanto aguardamos o retorno de Cristo: Compartilhe que Jesus voltará! Não é mito! A Bíblia garante: Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus (1 Ts 4:16). Podemos esperá-lo com os corações tranquilos: ele voltará. Até esse dia, proclamemos em alto e bom som: “O Messias virá, o Messias virá, o Messias virá!”. Nós acreditamos no advento!


O final de Ana

O Messias nasceu e veio para trazer-nos libertação. Veio para dar a sua vida em resgate de muitos, para buscar e salvar o perdido (Lc 19:10). Não somente hoje, mas durante todos os dias da nossa vida, precisamos louvar a Deus por esse evento e divulgá-lo a todos! O Messias já veio! Devemos celebrar seu nascimento, assim, como Ana celebrou. Mas, além de nascer, viver e morrer por nós, Jesus ressuscitou de entre os mortos e prometeu: ... vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também (Jo 14:2-3). Ele voltará.


Há quase dois mil anos, ele fez essa promessa. Muitos servos de Deus dormiram e não viram a concretização dela. Hoje, nós estamos a esperar por este evento. Estejamos certos: esse dia chegará! Por fim, gostaria que você refletisse em algo: a história de Ana ocorreu por volta do ano 4 a.C. e Lucas escreveu o seu evangelho por volta de 61-62 d.C.; ou seja, provavelmente, bem depois da morte de Ana.[5] O que ficou da vida dela? Um ótimo testemunho! Por isso Ana nos dá muitas lições. E o que os outros escreverão sobre nós? O que Deus está “escrevendo” sobre nós? Um dia, Jesus voltará. Pode até demorar, mas virá! Espere esse dia com fé! Como estaremos? Onde estaremos? Reflita nessas coisas. Amém.


Pr. Eleilton Freitas.

BIBLIOGRAFIA

DAVIS, John. Dicionário da Bíblia. 7 ed., Rio de Janeiro: JUERP, 1980.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. Vol. 1, São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Novo Testamento: Mateus a João. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

SPANGLER, Ann; SYSWERDA, Jean. Elas: 52 mulheres da Bíblia que marcaram a história do povo de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2003.



[1] Apesar do fato de, com doze anos, elas já estarem “liberadas” para o casamento. Essa idade era esperada com ansiedade. Não podemos nos esquecer, entretanto, que esta é uma questão cultural.

[2] Idem.

[3] Alguns pensam que ela tinha 105 anos e que, 84 anos diz respeito ao tempo da sua viuvez. Algumas traduções trazem: permanecendo viúva por oitenta e quatro anos. O fato é que ela era avançada em idade.

[4] Davis (1980:619).

[5] Se ela estivesse viva, teria algo em torno de 160 anos, o que é praticamente impossível.


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