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E agora você?

O que nos resta depois das quartas-feiras de cinzas?


Escrevo este texto em um sábado, 09/03/2019, um fim de semana após o Carnaval.


Quando eu era mais novo o Carnaval se resumia a desfiles de escola de samba em São Paulo e Rio de Janeiro e, no máximo, alguns trios elétricos em Salvador, Recife e Olinda, pontos até hoje tradicionais do Carnaval Brasileiro. Mas agora a coisa é diferente. Os “bloquinhos”, como são chamadas as concentrações em torno de trios elétricos, tomaram conta de quase todas as grandes cidades do Brasil. São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre... enfim, uma centena de cidades neste país continental vêm tendo Carnaval de rua de alguns anos pra cá.


As igrejas, por sua vez, na intenção de “proteger” os jovens e adolescentes da carnalidade da festa, realizam, tradicionalmente, acampamentos e retiros nos períodos de Carnaval. O que se vê, nas redes sociais e nestes eventos, é, de alguma forma, parecido ao que se vive na festa carnavalesca: emoção, alegria e brincadeiras, claro que dentro dos princípios cristãos. Espero que entendam minha comparação, não estou criticando os retiros de carnaval (ainda), mas de forma análoga aos bloquinhos, os retiros buscam oferecem entretenimento “gospel” aos jovens e adolescentes cristãos, afim de que estes não queiram se contaminar com as plumas, paetês e glitters da festa “mundana”.


Mas onde eu quero chegar com isso tudo? Isso é uma pergunta crucial. Quero refletir com você, leitor, sobre a efemeridade das emoções. Pense nos desfiles, pense nos camarotes, pense nos bloquinhos, pense nos retiros... E depois que chega a quarta de cinzas, o que sobra destas emoções? Quais as implicações práticas destas emoções? Quais os benefícios advindos delas? O que resta?


Os foliões amargam duras e longas ressacas, aguentam dores de cabeça, vômitos, enjoos, compram “Engov” e “Epocler” e, não raras vezes, meses depois participam de chás de bebês não planejados. Veem como são efêmeras as emoções?


Mas e os retirantes? Não é incomum vermos depoimentos de pessoas que voltaram de retiros de carnaval extasiadas e cheias de Deus, vemos vídeos e fotos onde os dons espirituais se manifestam (e, por favor, eu não nego a eficácia do Espírito), vemos jovens se derramando em lágrimas durante orações e isso é tudo muito bom! Mas, e na quarta de cinzas, o que resta dessas ações espirituais? Quantos destes jovens volta pra casa e busca uma vida devocional diária com Jesus, lendo sua Palavra e se dedicando à oração calma, serena e tranquila do quarto, sem as luzes apagadas e o fundo musical do grupo de louvor? Quantos destes retirantes voltam à sua comunidade local com entusiasmo e interesse em se engajar em um ministério que sirva ao Reino, à sociedade e à Igreja de forma eficiente e bíblica? Quantos destes retirantes de fato carrega frutos espirituais visíveis dos quatro dias de evento?


Entendam...

 

O problema está na ênfase! A ênfase em muitas igrejas

não está no relacionamento de discipulado,

mas em produzir eventos de entretenimento.

E ventos não produzem frutos; discipulado sim.

 

Um poema de Carlos Drummond de Andrade nos intriga, nos questiona e nos faz refletir. Deixo abaixo um trecho, mas te incentivo a ler o poema todo:

 

“E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?”[1]

 

Daí eu te pergunto: “E agora, você?”, quais serão os frutos que mostraremos a partir das emoções que vivenciamos? Quais serão as atitudes praticas que tomaremos, no âmbito da fé, da sociedade e da pessoalidade após provarmos os momentos extáticos em nossos cultos e celebrações (e não apenas nos retiros)? Quais frutos (ações) o Espírito produzirá através de nós, enquanto vivenciamos as experiencias carismáticas, tanto sobrenaturais quanto ministeriais?


E agora, José, Maria, Antonio, João... E AGORA, VOCÊ? Permita-se encontrar, em Deus, o autor da vida e o distribuidor dos dons, as respostas e estas indagações. Deus nos abençoe diariamente!




Eric de Moura.

[1] Disponivel em: https://www.pensador.com/e_agora_jose/ , Acesso em 09/03/19


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