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Ecos da Eternidade: Minha vida por um fio...

“Alguns seguidores do Mestre podem achar que não passo de alegoria ou que talvez não devesse entrar para o rol das personagens da Bíblia Sagrada por minha condição, mas Deus não vê como vê o Homem, pois conhece o nosso íntimo[1].


E quando minha vida estava por um fio, por um fio de escarlate, esse Deus me resgatou, e um ato simples que poderia passar despercebido para quem tem falta de visão, tornou-se um grande feito e embora meu estado não me permitisse, tenho meu nome reconhecido na História e passei não só a pertencer ao Seu povo, mas tive a honra de ser contada na genealogia do nosso Salvador Jesus.


Tudo começou há muito tempo em Jericó, uma das cidades mais prósperas e abastadas da época, que possuía um muro considerado indestrutível e os mais valorosos guerreiros que perfilavam as suas ruas orgulhosos de suas glórias e medalhas.


Nesse tempo, minha modesta “hospedaria” vivia cheia desses e de muitos outros homens que procuravam diversão em bebidas e orgias fora de casa... Era assim que sustentava minha família, pois era uma mulher que não havia nascido na nobreza, que conhecia a face mais vil da fome e da pobreza extrema e que não "conhecia" de fato nem a Deus nem outra forma de ganhar a vida.


Mas um dia tive um encontro com o Pai... Ele não olhou para minha condição nem me julgou, do contrário: Ele me aceitou como estava até que eu mesma estendesse que precisava mudar.

 

Deus esperou o meu tempo, não me apressou...

E me usou como instrumento nas Suas mãos,

mostrando aos Homens que pode fazer do improvável

uma fonte de vida e que jamais se deve considerar impuro o que Ele purificou[2].

 

Não fui escolhida aleatoriamente, o Senhor conhecia o meu coração e como tudo que Ele faz é perfeito, sabia que eu me encontrava em um ponto estratégico: minha casa ficava na entrada da cidade, bem no muro, além disso, como prostituta que era, recebia todo tipo de gente, do nobre ao plebeu, então conhecia as histórias de toda a Jericó.


Não deu outra: quando eles foram enviados pelo seu líder Josué[3], o Deus Eterno conduziu os dois espias até minha casa porque eu seria, com certeza, uma excelente fonte de informação.


Como sou muito visada pelas condições que citei anteriormente, a notícia chegou aos ouvidos do Rei que logo enviou seus soldados para sondar se o que haviam dito era apenas boato, afinal, a nossa cidade era fortificada e segura, ou se realmente alguém havia furado o bloqueio dos seus homens.


Mesmo sabendo do risco que corria, tive temor a Deus e escondi os espiões no terraço da minha casa e disse aos soldados do rei que de fato haviam estado comigo dois homens estrangeiros, mas partiram tão logo anoiteceu... Estremeci quando começaram a procurá-los por toda parte, mas felizmente Deus não os deixou encontrar seus filhos e eles se foram.


Depois disso, subi até os israelitas e professei minha fé em Deus; contei a eles tudo o que podia servir para tomarem a cidade; falei também o quanto todos, apesar de parecerem fortes e corajosos, estavam apavorados com a notícia de que os israelitas, povo do Deus vivo, estavam nas redondezas, pois eu e toda a Jericó sabíamos da soberania do Todo-Poderoso[4] e, por fim, que eu cria na promessa do Senhor em dar toda aquela terra ao povo de Israel e no porvir a vida eterna na Terra Prometida.


Os espias de Josué me perguntaram como eu gostaria de ser recompensada por tê-los ajudado e poupado suas vidas. Pedi-lhes que quando o Senhor os fizesse herdar a cidade de Jericó, derrubando seus muros, dessem-me a vida também, fazendo com que eu e os meus familiares tivessem a oportunidade da comunhão com o verdadeiro Deus.


Apesar de pertencer àquele povo idólatra e perverso e de viver uma vida que não agradava ao Pai, eu reconhecia que só Ele é o Senhor.


Eles então me instruíram dizendo o que eu deveria fazer, firmamos um pacto e oramos a Deus agradecendo pela Sua infinita misericórdia[5].


Desse dia em diante, o Senhor mudou a minha sorte; casei-me com um israelita e tive um filho chamado Boaz[6], tornando-me, assim, tataravó do Rei Davi de onde viria a raiz de Cristo – o prometido de Israel”.


Esther Braga.

[1] Romanos 8.27.

[2] Atos 10.

[3] Josué 2. 1-2.

[4] Josué 2.11.

[5] Josué 2. 4-19.

[6] Mateus 1. 5-6.


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