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Lamentar a morte de Marielle não é concordar com Marielle

Se compadecer da brutalidade feita contra a vereadora e tantos outros casos de mortes, não configura uma adesão a valores e opiniões deles.

Mais de trinta dias passados desde a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), de seu motorista Anderson Gomes, brutalmente assassinados no centro da cidade do Rio de Janeiro, no dia 14 de março de 2018. Oito tiros foram disparados contra o carro, acertando a vereadora e o motorista, e ferindo de raspão, a assessora da parlamentar, Fernanda Chaves.


As investigações seguem em absoluto sigilo. Segundo informações do site UOL, a principal linha de investigação da Polícia Civil é que o fato teve motivação política. No último sábado, dia 14 de abril, manifestações de lembranças da morte de Marielle e Anderson, aconteceram em várias partes do país, bem como a cobrança para que as autoridades tragam respostas ao caso. Além desse dia emblemático de um mês sem a vereadora, desde o ocorrido, parte sociedade brasileira foi mobilizada com atenção a este fato.


Diante da comoção e amplo destaque na mídia nacional e internacional, órgãos internacionais de Direitos Humanos, como a Anistia Internacional, acompanham o andar das investigações e pedem a resolução do caso. Ao mesmo tempo, a morte de Marielle trouxe ao debate, a repercussão do assassinato de outras pessoas, como por exemplo policiais, que não ganham o mesmo peso, na visão de parte da sociedade.


Diante disso, muitos limitaram a morte da vereadora ao debate do campo ideológico e com isso, insensibilizaram-se diante do assassinato. Muitos daqueles com valores diferentes dela, compartilharam um discurso raivoso, distribuindo nas redes sociais notícias falsas (fake news). Umas dessas notícias era a de que Marielle teria sido casada com um traficante, e portanto, apoiadora do tráfico. Até o dia 18 março, o PSOL havia recebido 11 mil denúncias de notícias falsas como esta.


Neste turbilhão todo, precisamos ser coerentes e ponderados em nossas análises. Certamente o alemportal.com não concorda com muitos aspectos de valores e pensamentos de Marielle Franco, entretanto, entendemos ser infeliz que uma pessoa seja morta por suas ideias ou pela violência que como gangrena atinge o Estado brasileiro.


Aos amantes da verdade (e aqui trata-se de fatos e não somente de crenças), não devemos em nome dela, compartilhar a mentira sobre o outro, só para desqualificá-lo. Afinal, para surpresa de muitos, Marielle defendia não somente as vítimas de erros de policiais, mas também, prestava auxílio a família de policiais mortos, como coronéis das forças de segurança, afirmam em entrevista para a grande imprensa essa ação da parlamentar, atitude que possivelmente deu um “nó”, até naqueles que desejam o fim da militarização da Polícia Militar e que partilham da linha ideológica da vereadora.


Por último, nosso compadecimento a morte dela, de Anderson ou dos trinta e seis policiais mortos no Estado do Rio de Janeiro este ano, para citar alguns exemplos, pois a morte de maneira alguma deve ser um motivo de nos alegrar, principalmente em contextos de injustiça. Desejar que o crime da vereadora seja esclarecido e que mortes nestas e outras circunstâncias não ocorra, não significa adesão aquilo que em vida afirmaram.


Esse comportamento de não se alegrar com a morte de ninguém é um comportamento do próprio Deus, o qual é relatado pelo profeta Ezequiel: Vocês pensam que eu tenho prazer na morte do ímpio? — diz o SENHOR Deus. Não desejo eu muito mais que ele se converta dos seus caminhos e viva? Eu não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus. Portanto, convertam-se e vivam. (18.23,32) Imagina-se que nem todas as pessoas morram em circunstâncias que Deus desejaria. Nem todos morrem andando no caminho desejado pelo Senhor, entretanto, a postura de Deus ainda assim é de tristeza pelo fato. Isso não significa que Deus concorde com os valores de quem morreu, mas, mostra a sensibilidade de Deus com o fim, mesmo daqueles que não temem o seu nome.


Andrei Sampaio Soares | Editor-chefe do alemportal.com, graduando em jornalismo e teólogo.


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