Tenho uma mania infantil de dar nome a tudo quanto é coisa. Meu patins tem nome, minha bicicleta também, a boia que uso na piscina, minha poltrona, as pantufas... E também as duas aranhas que ficam do lado de fora da janela onde trabalho. Elas se chamam: Charlote e Lucas. São grandes, tem um misto de preto e amarelo, e eu entraria em pânico se não fosse pelo vidro que nos separa.
A Charlote e o Lucas não se mexem muito, estão sempre no topo da janela, imóveis. Apesar de terem feito sua teia na janela toda, que pode ser considerada grande, elas não exploram muito, e depois de terem terminado de completar o espaço da janela, pararam de avançar com a teia. A Charlote e o Lucas só saem do lugar pra se esconder quando está chovendo e também pra capturar algum alimento que por uma fatalidade do destino ficou preso na teia, e será sua próxima refeição.
Se nenhum acidente acontecer, minhas duas aranhas viveram o tempo de vida normal das aranhas de sua espécie, que não tenho ideia de qual seja. Porém, Lucas e Charlote nunca terão conhecido nada além da janela, nada além desse retângulo, onde eles nasceram.
Como sei que eles nasceram aqui? Porque eu vi. Tinha uma aranha maior que teve os filhotes aqui na janela, ela sumiu e surgiram várias aranhinhas, muitas não sobreviveram, mas o Lucas e a Charlote, sim.
Voltando a nossa análise das aranhas da minha janela.
Elas escolheram uma vida acomodada. Uma vida sem muita emoção, segura, mas quase que inútil. Não estou aqui negando o papel da aranha no mundo, porque cada animal tem um papel biológico dentro da natureza, foram criados e concebidos com propósito. Quero fazer uma analogia com nossa vida e nossas escolhas. Será que não estamos estagnados? Será que não estamos imóveis num mesmo lugar há muito tempo?
Será que não nos cercamos na teia que construímos, essa vida limitada, e nos acostumamos a viver apenas nesse espaço? Sem explorar, sem evoluir, sem nunca ser mais que apenas pessoas que respiram e ocupam um lugar físico nesse mundo? Será que não nos mexemos apenas pra nos esconder ainda mais quando uma tempestade de problemas aparecesse? Ou quando é inevitável devido às nossas necessidades básicas?
Deus nos fez pra sermos mais que estátuas da vida! Ele nos fez pra sermos luz no mundo e sal na terra, Ele nos deu o “ide ao mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” Ele nos deu a função de sermos testemunhas do Seu amor, da Sua Graça, do Seu sacrifício, da Sua ressurreição. Deus nos fez para amar, para levar amor à todos os cantos da Terra, e talvez não estejamos levando amor nem à casa ao lado.
Você quer mesmo passar a vida toda como a Charlote e o Lucas? Parado, quase nem respirando pra continuar imóvel? Deus te fez pra muito mais, te encheu de dons, talentos, de presentes que te fizeram único. Ouse sair da teia, ouse explorar, ouse ser mais, ouse seguir o chamado que Deus tem pra você, ouse amar, ouse se mexer.
Mariana Mendes | gerente de Mídias Sociais, escritora e criadora de conteúdo para o canal: youtube.com/entrelinhas