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Um Coringa na Manga

Tomo emprestado o velho ditado popular para empregá-lo à situação corrente na última semana, que encheu os noticiários e manchetes em todo país. A intervenção federal no Rio, como já muitos comentam, é uma escapatória digna de quem tem um coringa na manga, uma “desculpa” para a fracassada reforma da previdência. Na sexta-feira última, o presidente Michel Temer assinou um decreto estipulando intervenção federal na área da segurança pública no Estado do Rio de Janeiro. Na prática, o exército passará a comandar a área da segurança, direcionando e delegando as polícias e até mesmo a secretária de segurança. O decreto passa por votação no congresso federal nesta segunda para análise e aprovação, de onde seguirá ao senado para mesma discussão. Nos bastidores se comenta que a resposta será favorável e a aprovação do decreto se dará com folga. A medida é a primeira em quase 29 anos, desde que votada a constituição federal em 1988.


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A situação na área da segurança pública no estado do Rio de Janeiro é caótica já de muito tempo, sua população vive entrincheirada dentro de seus próprios bairros. Neste domingo, três homens foram atingidos por tiros e mortos, durante uma tentativa de assalto em Bangu, na zona oeste do Rio. Dentre eles estava o sargento PM, Cristiano das Neves Souza, o décimo sétimo policial morto no Rio de Janeiro, só neste ano.

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Essa é uma realidade que tristemente já chamamos de cotidiana na vida dos cariocas, e de muitos outros brasileiros e brasileiras, que testemunham diariamente a perda de seus entes queridos. No caso do Rio, a dura estatística chega a quase 37 mortes violentas por cada 100 mil habitantes. As realidades estão quebradas, desde muito a hostilidade transborda em todos os cantos como água que consegue encontrar curso mesmo em lugares fechados. Como cita Gillis, “O ódio se manifesta em múltiplos aspectos da vida nacional, tanto no microcosmo no qual nos encontramos – dentro de paredes em que vivemos – como na dinâmica das macrorrelações políticas, econômicas e sociais e até nos conflitos entre povos e nações”.


Soldados nas ruas e exército no comando, será mais como uma aspirina urgente para uma doença grave com contornos que remonta desde muito, como consequência de um descaso dos poderes com a infraestrutura urbana, a falta de aplicação de recursos necessários e boa gestão na área educacional; entre outros eteceteras que não cabem no discurso político interesseiro e “convenientista” da maioria que pensa a agenda política do país.


Assim, enquanto o decreto de intervenção durar, a fracassada tentativa de reformar a previdência (sem apoio suficiente no congresso), não poderá entrar na pauta. Por lei, uma emenda constitucional não pode ser votada enquanto um decreto como tal estiver em vigor. Portanto, o conveniente – e amargo – coringa da intervenção federal na situação carioca, vêm a calhar nesse momento em que a votação da reforma previdenciária só se prestaria a desgastar ainda mais o atual governo de Michel Temer.


Marciel Diniz | Teólogo e pastor.



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