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Carnaval: a festa da imprecisão?

O carnaval é uma das festas mais conhecidas do país de maneira local ou internacional. Ainda que infortunadamente, o Brasil ainda é conhecido como país do futebol e do carnaval. O festival nacional que arrasta multidões no sudeste e nordeste a fora traz consigo as oscilações de uma festa que reflete mais do que cultura. O carnaval é impreciso, aparentemente bem colorido, aparentemente não quer se compor como sendo parte do “pão e circo” brasileiro, mas não escapa desta deixa. Quem se liga sabe, enquanto alguns dançam, por muito tempo essas datas têm sido usadas como desculpa para desviar as atenções de temas mais importantes no cenário nacional: como adiamento de votações políticas importantes ou esfriamento de pautas quentes. Essa semana o bombardeio em torno do tema auxílio moradia para os juízes do poder judiciário esquentaram a cabeça de muita gente. A crítica que recaiu pelos meios de mídias vem a calhar, num tempo de dura crise econômica. O teto da constituição prevê o salário teto de 33.000 reais para o poder judiciário. E dentre os vários auxílios recebidos os juízes ganham o chamado auxílio-moradia de pouco acima de 4.000 reais. A medida de auxílio tem sido justificada por muitos magistrados, como compensação do não reajuste do salário. Esse recurso forçadamente seria justificado, se vários desses membros do poder judiciário não tivessem vários imóveis em seu nome, segundo revelado por suas declarações de IR.


O Jornal Folha de São Paulo revelou recentemente que o campeão da lista de beneficiados é o desembargador do tribunal de São Paulo, José Antônio de Paula Neto, que tem 60 imóveis registrados em seu nome na base do IPTU. Essa lista beneficiária não poderia caber aqui. Com certeza a imoralidade do benefício não condiz com a realidade do país, num momento de cortes, ajustes e reformas. No último mês, associações de juízes protestaram por aumento de salários para categoria e o tema voltou a ser alvo de discussão até nos bastidores do STF (Supremo Tribunal Federal). O beneficio foi concedido pelo ministro do STF Luiz Fux, através de liminar em 2013, mas será levado a plenário já que em dezembro o mesmo ministro liberou o caso para pauta do supremo. O carnaval é mais que imprecisão, oscilação? Talvez, mas num tempo assim ele não consegue se parecer com muita coisa mais. A festa, porém, passará e continuaremos aqui para lidar com os mesmos debates, em um ano incerto para o Brasil; vamos sobreviver.


Marciel Diniz | Teólogo e pastor


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