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Brasil e a injustiça das cores

O Brasil é um gigante verde, amarelo e de várias cores mais. A riqueza e diversidade cultural que fazemos parte resulta de um gigantesco processo histórico de miscigenação de povos, raças, religiões e culturas. Recentemente o Além Portal citou uma pesquisa a respeito da religião mais negra do Brasil, um exemplo do que pode ser pensado a respeito da multiplicidade étnica e religiosa do país. Em julho desse ano a revista Ultimato, citou dados do último censo Atlas da Violência 2017, publicação do Instituto de pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), que estima 59080 assassinatos em 2015 no país, dos quais, a cada 100 pessoas assassinadas, 71 eram negras. Segundo o estudo a estimativa é que os cidadãos negros tenham um risco de quase 25% maior de sofrer assassinato em relação a outros grupos populacionais. A editora ainda apontou que entre as pessoas que vivem em situação de pobreza extrema 70,8% são negros, e a renda per capita atinge R$ 509,00 por mês, ao passo que entre a população branca esse valor chega a R$ 1097,00. São dados como estes que claramente revelam a óbvia desigualdade social que vive o país atualmente. A realização do sonho da igualdade multiétnica ainda está longe infelizmente, ainda que nós reafirmemos a unidade da raça humana em Deus o Senhor da história, exigindo direitos e respeito iguais para as minorias étnicas.


A injustiça das cores não é novidade pois vem acompanhada da injustiça humana, duas aliadas terríveis e degradantes entre si. Esse é o problema “originante” dessa questão. Já ouvi algumas frases do tipo: “A vida é muito injusta” ou “O mundo é muito injusto”. Essas frases fazem sentido em certo contexto. Algo está bem injusto em várias áreas de nossa peregrinação humana. Aristóteles e Platão afirmavam que a justiça ética e moral era o meio ou a justa medida entre um extremo e outro... E o que parece é que bem raramente as coisas da vida complexa se assemelham à justa medida.


Muito do que deveria ser ou funcionar no justo não se qualifica como tal. Injustiça: fora do meio ou do equilíbrio, não ajustável, nem qualificável, fora do lugar, não ser. Não ser ou não ver o outro como igual, independentemente de cor, raça ou religião; não ser esposa ou marido como deveríamos; não estudar, comer, trabalhar ou descansar como deveríamos; não se relacionar ou buscar a Deus como deveríamos, compõem esse grande quadro de injustiça de coisas e coisas na vida e no mundo, fora da medida. Justiça versus Injustiça.


“Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘o justo viverá pela fé.” (Romanos 1:17 NVI – grifo meu)


A boa e grande nova do evangelho não se resume em simplesmente nos mostrar o modo justo de vida segundo os padrões divinos; mas nos revelar que a vida na justa medida, é também a constante contemplação utópica do horizonte de justiça que está além e precisa ser perseguido, do começo ao fim da vida, pela ou através da fé. Esse descobrimento foi o grande clarão para vida de Martinho Lutero, que entendeu finalmente a justiça de Deus ou tais padrões do evangelho, não como tendo o objetivo de simplesmente equalizar ou contrastar nosso pecado à santidade de Deus, Mas pela fé, nos justificar vicariamente (substutivamente), através da vida e obra de Jesus.


Hoje ainda nos resta orar e agir na perspectiva de nos personificar à vida justa e mais ajustada pelos padrões de Cristo, e menos aos padrões humanos que levam a tanta desigualdade nojenta. Talvez sejamos como uma certa fruta que tem sua metade podre, daqui a “alguns instantes” ela cairá ao chão e nele inevitavelmente apodrecerá enterrado na terra. Entretanto “amanhã”, a essência justa (semente), brotará e se tornará em definitivo, uma bonita (justa) e saudável árvore.


Marciel Diniz | Pastor e teólogo.






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