Vamos conversar hoje sobre a última Sola da Reforma Protestante, caso não tenha lido os outros textos, acesse:
Dicionário da Reforma:
Santo: sagrado, essencialmente puro, que não pode ser violado, separado.
Profano: que não pertence ao âmbito sagrado, que deturpa ou viola a santidade.
Sacerdócio: ofício, ministério, carreira eclesiástica, função que apresenta caráter nobre.
Desdobramentos da Reforma
A ICAR não fica absolutamente quieta diante da Reforma, ela reage criando a Contra Reforma; diante desse cenário, surgem alguns fatos. Os Jesuítas, que funcionavam como missionários da Igreja Católica, como esta começou a perder muitos membros, e precisava tê-los de volta. Temos também a reafirmação da soberania papal para combater a Reforma, afinal, eles acreditam que o papa é substituto de Jesus na Terra, como já conversamos, e portanto, não pode nunca estar errado e nem ser questionado. A vulgata, que é a tradução da Bíblia em latim, fazendo com que os membros da igreja não tivessem acesso às escrituras, e isso durou por muito tempo ainda, mesmo após a Reforma. Último fato é que as Indulgências não são abolidas, mas perdem sua força, a igreja apenas diminui um pouco sua importância e sua centralidade.
Ao mesmo tempo que acontece a Reforma, a sociedade começa a sair da Idade Média, entrando o Humanismo e o Renascimento. Que nos levam depois ao Iluminismo, onde a luz é vista pela ótica da ciência. E então somos puxados para o liberalismo, onde somos donos de nós mesmos, nós produzimos o que precisamos e somos completamente independentes. Até chegarmos na Modernidade; durante o Iluminismo Deus ainda estava no centro, não mais. Agora, a sociedade é pluralista e não existem mais absolutos, entram os relativos, e as crenças passam a ser as mais diversas. A Bíblia passa a ser questionada como verdade e vivemos o secularismo, onde o homem é quem ocupa o centro. Cada um desses movimentos nos traz à Modernidade Líquida (ou Pós Modernidade), o que vivemos ainda hoje; a sociedade perde seus pilares, sua solidez. A secularização chega a conclusão de que nós alcançaríamos a paz e tudo o que necessitamos pela ciência, por esforço próprio, e sem Deus. No entanto, vivemos a Primeira e a Segunda Guerra Mundial e o Planeta toma um banho de água fria. A sociedade volta para a espiritualidade por volta da década de 60, contudo é ainda mais pluralista, acreditando em qualquer coisa e sendo pós cristã, rejeita Cristo. Essa sociedade aceita crer em Deus, mas não necessariamente o Deus da Bíblia, Deus pode ser qualquer coisa dependendo do que você escolhe acreditar, o que não se aceita de forma alguma é o evangelho, é Jesus...
A Reforma e Somente a Deus a Glória
Entramos numa espiral e talvez você chegue a pensar que a Reforma nos trouxe até essa sociedade Pós Moderna. Não se engane, isso é consequência do mundo pecador em que vivemos. Agora, vejamos o que a Reforma realmente propõe. Ela nos alerta para uma visão mais cuidadosa dos necessitados e dos direitos humanos, que são coisas ensinadas na Bíblia, e deveres dos cristãos. As descobertas científicas acontecem porque se sabe que Deus criou um universo lógico e racional, e o conhecimento deve ser buscado e compartilhado. As artes também têm uma guinada lá pelo Renascentismo, sendo incentivadas, já que criar faz parte de ser humano. As profissões liberais, o lucro, o progresso, a tecnologia, tudo isso avança porque vem com as defesas do protestantismo, como sendo direito de todos. Na visão do reformador, todos esses itens acima glorificam a Deus. Glorificar a Deus não é apenas dizer “Glória a Deus” quando estamos na igreja, é muito mais. O papel do ser humano é glorificar a Deus em tudo o que ele é ou faz.
“Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para sempre! Amém.” Romanos 11:36
“Porque Dele...”
Precisamos entender que tudo é Dele, Deus é o dono de todas as coisas. Nós somos os mordomos, os administradores escalados para cuidar do que quer que seja que Ele nos tenha dado. “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” Salmo 19:1.
“Por Ele...”
Precisamos entender o sacerdócio universal de todos os crentes. Todos os serviços podem ser santos ou profanos, depende da nossa motivação. Um padre pode ser profano, bem como um sapateiro pode ser santo, depende da pessoa, não da sua profissão. Exercendo nossa profissão com santidade somos testemunhas “daquele que os chamou das trevas para sua maravilhosa luz.” 1 Pedro 2:9. Então, se tudo é Dele, tudo o que faço é por Ele!
“Para Ele são todas as coisas.”
Precisamos entender nosso papel dentro da criação. “O Senhor Deus pôs o homem no Jardim do Éden para que o guardasse, o cultivasse e cuidasse dele” Gênesis 2:9. Tudo o que fazemos e produzimos é para Ele. Deus coloca o homem em um JARDIM! Jardim é produção de um ser humano que mexe com a Terra. Ele precisa de cultivo, precisa ser mexido, transformado. Deus diz: eu criei, agora crie em cima de minha criação! Por exemplo, a primeira tarefa que Deus dá a Adão é a de nomear os animais. Deus se agrada sim do que produzimos culturalmente, do que cultivamos. Nossa produção cultural não será desprezada, mas redimida na volta de Cristo; sem a prisão do pecado, seremos ilimitados e nossa produção cultural estará debaixo da glória de Deus. Afinal, Deus se encanta com o que fazemos, assim como os pais de uma criança; mesmo com artes pífias e pequenas, Deus se agrada da nossa obra. A Reforma também nos mostra a graça comum, que cai sobre justos e injustos, fazendo com que qualquer um possa produzir coisas boas.
3 coisas sobre a produção de Cultura
Contra Cultura: há quem seja totalmente contra qualquer produção cultural. Abaixo a tudo, corta tudo, boicota tudo. Mas nós não precisamos disso.
Acomodação à Cultura: aceitamos tudo, abraçamos tudo, vivemos tudo, acabamos envolvendo o que não deveríamos, porque simplesmente absorvemos TUDO! E mesmo podendo encontrar aspectos da graça de Deus em todos os lugares, podemos também encontrar aspectos da idolatria aos quais precisamos saber identificar e reagir.
Transformação e relevância da cultura: precisamos sim estar e fazer parte da cultura, mas precisamos ter filtro. Aprender a transformar e trazer relevância onde encontramos erros. Porém precisamos antes saber identificar o que é bom e o que podemos absorver e o que não. A Palavra nos revela e nos dá sabedoria para tanto.
Conclusão de toda nossa caminhada sobre as Solas: A igreja cristã atual precisa de uma nova Reforma?
Precisamos sim de um reavivamento baseado nas escrituras. Precisamos voltar a ter a Bíblia como referência, ela precisa ser lida, isso tem que ser rotina, Deus nos mostra os caminhos através da sua palavra. Precisamos sim de um reavivamento do evangelho de Cristo por meio da fé. Precisamos confiar Nele, voltas às boas novas, se dobrar diante da cruz e reconhecer que apenas por meio Dele que estamos aqui. Precisamos sim de um Reavivamento de uma vida integral que glorifica a Deus. A igreja não é singular na glorificação, a minha vida é o palco para que eu dê glórias a Deus constantemente. Cada ato, cada pensamento, cada escolha, tudo o que vivemos deve ser norteado em razão de glorificar a Deus. E cada vez que eu falho na minha missão, preciso voltar ao evangelho, me dobrar diante da Cruz e reconhecer a minha fraqueza e minha natureza pecadora e entender que vivo dependente Dele, por Ele e para Ele. Somente a Deus a Glória! Amém!
Mariana Mendes | gerente de Mídias Sociais, escritora e criadora de conteúdo para o canal: youtube.com/entrelinhas