Dois inimigos do evangelho
- teologia
- 20 de ago. de 2017
- 4 min de leitura
Vamos refletir sobre dois inimigos do evangelho: o legalismo e o antinomismo, ou como diz Timothy Keller: Religião e Irreligião. Ambos impedem que desfrutemos do evangelho e nos incapacita a compartilhá-lo verdadeiramente.
1. Um inimigo chamado Legalismo.
Quando pensamos no inimigo chamado “legalismo”, devemos entender como este é ameaçador a nosso entendimento e como prejudica o compartilhamento do evangelho. O legalista é aquele que embasa seu relacionamento com Deus somente na perspectiva humana e comportamental. Ele entende que é aceito e amado pelo Pai, não pela iniciativa de Deus, mas puramente por sua forma de agir e, se não viver assim, Deus simplesmente deixará de amá-lo.
Um bom exemplo deste tipo de comportamento é o fariseu, que sofria de um zelo extremado. Seu problema era o excesso de religiosidade. Temos, por exemplo, uma parábola contada por Jesus que nos esclarece isso. A primeira parte em Lucas 18. 9-12 diz:
9 Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: 10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
Olha que interessante. O fariseu esbanjava santidade aos seus olhos. Vale dizer que ele fazia coisas que Jesus mesmo pede. Ele jejuava, dava o dízimo e era um homem de igreja e oração. Porém, pelo início da parábola contada, Cristo o desaprovava.
Vejamos novamente Lucas 18.9: Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros. O problema não eram os exercícios espirituais praticados, mas fazer isso para alcançar a graça de Deus. O problema não estava no jejum, no dízimo (pois são práticas que Deus nos pede). O problema era a autopromoção, era fazer tais coisas pensando que podia comprar a graça de Deus.
Por isso, para curtimos o evangelho de verdade e compartilharmos ele com sua essência pura, devemos abrir mão desse legalismo. Santidade que se vive em cima do desprezo ao outro vira hipocrisia. O problema que Jesus vê no fariseu da história é que ele pensava ser justo desprezando os outros. Vivia em santidade e dizia ser melhor do que todos. Isso é legalismo!
A apresentação da Verdade sempre leva em conta a Lei, os Dez Mandamentos, a obediência, porém, é preciso dizer ao não salvo que ele precisa de uma mudança de coração, para que torne-se agradável a Deus e justificado pela fé em Cristo, viva em obediência grata. O legalismo é a tentativa de se “comprar” o amor de Deus pela aparência de piedade, pelos rituais e pelo muito falar, mas, para fugirmos disso, temos que sempre reconhecer que obedecemos, cantamos, oramos e vivemos como fruto da graça que nos transformou, como o publicano reconheceu na parábola contada por Jesus, conforme Lucas 18.13-14: 13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! 14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.
2. Um inimigo chamado Antinomismo.
Se o exagero religioso compromete a vivência e o compartilhamento do evangelho, outro inimigo declarado da mensagem é o antinomismo. Essa palavra é formada na língua grega por dois termos: “anti=não” e “nomos=lei”. Ou seja, o antinomismo é uma proposta de vida “sem lei” e sem parâmetros. No Evangelho, seria acreditar em um Deus tão bom, que Sua graça excluiria qualquer princípio, mandamento ou regra.
Os antilei são aqueles que acreditam que podem fazer o que querem depois que são salvos por Deus. Podem andar de qualquer jeito, visto que Deus é gracioso e amoroso, portanto, não há limites para tais pessoas. Estes, na verdade, pervertem a graça e se esquecem de muitos dizeres de Nosso Senhor, que mostram uma vida de compromisso para os filhos de Deus, alcançados pela graça.
Basta lembrarmos de alguns assuntos pregados por Jesus. O que dizer do caminho estreito e porta estreita (Mt 7:13-14); de negar a si mesmo e tomar a cruz (Mt 16.24); de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mc 12.29-31). O que falar sobre o descanso no sábado, sendo resgatado por Cristo (Mc 2.27); o que falar sobre oração, jejum, esmola, fidelidade, entre outros, presentes no código de ética do Reino de Deus, o Sermão do Monte (Mateus 5 ao 7). Veja que são tantas as instruções que Jesus falou que estão ligadas a mudança de vida, santidade e comportamento.
Para entendermos o perigo de ser antinomista leiamos o que disse Judas, irmão do Senhor, em seu livro, versículo 4: Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo. Destaco a palavra “libertinagem”, que segundo dicionário bíblico quer dizer: “luxúria desenfreada, excesso, licensiosidade, lascívia, caráter ultrajante, desaforo, insolência.”
Entendeu agora o perigo de ser antinomista? Percebeu como é grave e como afeta a vivência e a pregação do evangelho? Como está sua visão da mensagem divina? Você tem crido e pregado um evangelho que não fala em obediência, em responsabilidade, em disciplina, em juízo? Fujamos do antinomismo!
Temos que ter uma equilibrada visão do evangelho. Afinal, não seria bom viralizarmos aquilo que parece bom, mas é errado. Não podemos ser legalistas e nem antinomistas, pois isso tanto prejudica a nossa vida cristã com Deus e com o próximo, bem como nossa forma de compartilhar o evangelho.
Pense comigo na seguinte situação. Você escreve um texto ou grava um áudio falando de um destes dois aspectos que ouvimos nesta mensagem, e pense que você posta dizendo ser esta a sua opinião. Depois de ver a opinião das pessoas e analisar o que escreveu ou gravou, percebe seu equívoco. Certamente o constrangimento seria grande.
Por isso, devemos pensar muito bem no evangelho que temos crido, pois, se conhecemos um evangelho que não seja o bíblico, iremos viralizar uma mensagem mortal e destruidora que poderá prejudicar a muitos. Porém, se pedirmos a ajuda do Espírito, estudando sua Palavra, certamente salvaremos pelo evangelho, a nós mesmos e aos que estão ao nosso redor.
Andrei Sampaio Soares,
teólogo, escritor e criador/editor do Além Portal.
