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Ainda somos e vivemos como nosso Pai?

Quando nasce um bebê, as pessoas logo começam a observar com quem ele se parece. Os pais constantemente tendem a dizer que a criança se parece com um ou com outro. Tal situação é completamente normal, afinal, se espera que o novo ser que foi gerado tenha características de seus genitores. Outra observação, agora com respeito à personalidade, é sobre quem a criança puxou na medida em que vai crescendo. Dependendo do que o filho pensa de seus pais é um orgulho ser comparado com os mesmos.


O normal seria que os filhos se parecessem com seus pais. Mas, vemos uma constante luta para que isso não aconteça. Muitos filhos não querem ter nenhum tipo de associação com seus pais. Todavia, por mais que se tente, traços dos pais sempre estarão presentes. Como disse Elis Regina: “Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Podemos até não querer, mas sempre seremos, ainda que fracionadamente, expressão de nossos pais.


Parece ser uma tendência humana se parecer com alguém. Fala-se muito sobre autenticidade, porém, ninguém consegue ser completamente autêntico. Todos nós somos uma construção oriunda de uma série de referências. O ser humano não nasce pronto. Ele vai se formando ao longo da vida e parte dessa formação vem de pessoas, conceitos e estilos que servem como referencial ao longo da vida.


Pensando na ideia da criança e da busca em saber com quem ela se parece, somos levados a ponderar sobre a paternidade divina. O ser humano foi criado, gerado por Deus e espera-se que o mesmo se pareça com Ele. Ao criar o ser humano, o objetivo de Deus era deixar na terra uma extensão de si mesmo: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gênesis 1:26). E dessa forma foi feito: Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gênesis 1:27). Deus gerou a humanidade na expectativa que ela se parecesse com seu Pai.


No ato de sua criação, o ser humano refletia perfeitamente a imagem de Deus. A criação o olhava e via como ele se parecia com seu Pai divino. No entanto, a humanidade, assim como um filho rebelde, não quis se parecer com seu Pai. Apesar da proposta da serpente ter sido vocês serão como Deus (Gênesis 3:5), no fundo, o que eles queriam era criar uma identidade autônoma, desassociada de seu criador. Embora a imagem de Deus tenha permanecido depois da Queda, ela ficou pervertida. Se antes era fácil reconhecer que a humanidade se parecia com seu Pai, agora é uma tarefa altamente difícil distinguir com quem ela se parece.


A partir desse momento, Deus começou a trabalhar, e continua até hoje, para recuperar sua imagem no seu ser criado. É por essa razão que Deus envia seu Filho. Jesus é considerado na Bíblia como a imagem perfeita de Deus. Em diversas passagens (Colossenses 1:15; Hebreus 1:3) é dito que Ele reflete o Pai de maneira perfeita. Por isso é dito na Bíblia que Deus nos predestinou para sermos “conformes à imagem” de Jesus: Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Romanos 8:29). Ser igual a Cristo é ter de volta a imagem de nosso Pai divino.


Com quem você se parece? Com quem você está buscando se parecer? Com quem você se orgulha de ser associado? As respostas a essas perguntas são de suma importância. E talvez sejam as únicas que importam. Afinal, se não nos parecemos com Cristo, e por consequência com Deus, com quem nos parecemos então? A vida cristã só faz sentido se estivermos nos parecendo cada vez mais com Jesus. Tudo que fazemos como igreja e como cristãos só tem sentido se o mundo olhar para nós e perceber como parecemos com nosso Pai. Por isso, pergunto novamente: com quem você se parece?


Ismael Braz,

é teólogo e pastor.


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