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Quem está competindo?

Nem sou assim tão experiente na vida, mas uma coisa tenho aprendido, eu, mulher, rivalizo. Por grandes motivos e pelos banais também, como o cabelo, o peso, a limpeza da casa, a criação dos filhos, por ser bem sucedida no emprego e até pelo trabalho que desenvolvo na igreja. Outro dia fiquei chateada por um comentário de outra mulher e confidenciei ao meu marido, que para abalar meu ego inflado disse “Você só se chateou porque entrou no jogo de rivalidade”. Apesar desta fala me incomodar a princípio, causou reflexões em mim, as quais compartilho.

Essa rivalidade não necessariamente se resume em uma briga real, mas uma luta travada interna e sutilmente, em que quero provar que sou melhor que as outras. Entro facilmente em um jogo insano de competição. Que muitas vezes é alimentado por outras pessoas com frases como “A fulana já entrou na faculdade, e você não vai estudar?” e “Você não quer casar? Todas suas amigas já se casaram.” ou “A beltrana mal chegou à igreja e já está trabalhando, e você não se dispõe.” e ainda “Viu que tal pessoa já engravidou? Passou sua frente.” Parece surreal, contudo já ouvi certos tipos de comentários.


Entendi que entro no jogo da rivalidade, quando não tenho algo bem resolvido em mim. Possivelmente, tenho inseguranças a meu respeito. Questiono, consciente ou inconscientemente, meu valor como indivíduo, minhas escolhas pessoais, minha aparência, minha inteligência etc. E por falta de uma autoestima equilibrada, tento provar para os outros e principalmente para mim que sou boa o suficiente, algo que nem sempre acredito. E para me sentir melhor, quero saber que existem pessoas inferiores. Quero parecer melhor que a outra para encobrir o quanto sou descontente comigo mesma. Então, critico suas escolhas, inteligência, trabalho e aparência para me sentir um pouco melhor, porém internamente estou ofendida, pois vejo que algo nela parece sobressair.


Este olhar para mim e para o outro não é real, muitas vezes é imposto pela cultura que me pressiona a ser uma “super mulher”. Alguém que consegue administrar tudo, ser bem sucedida no emprego, ter um casamento incrível, ser uma mãe presente e ainda estar elegante e bonita. Infelizmente, isso causa cansaço e insatisfação, porque não consigo dar conta de tudo e nem consigo ser perfeita, contudo, para esconder essa realidade afirmo o quanto sou bem resolvida comigo mesma.


Pensando em tudo isso, lembrei-me do episódio em que aquela mulher ao dormir matou seu bebê e quis tomar o da outra para si (1 Re 3:16-27). Quando diante do rei Salomão não se importou em que o outro bebê fosse morto, porque então estaria lidando de igual para igual com a outra mãe. Não sou diferente quando me alegro, porque a outra não passou na faculdade, não namorou o rapaz interessante, não casou, não assumiu tal cargo na igreja, não foi promovida no emprego. Isso é inveja. E inveja é não saber “se alegrar com os que se alegram”, com os que têm coisas boas a contar, vitórias e conquistas a expor (Rm 12:15a). A outra parte do versículo “chorar com os que choram” é mais fácil, porque frustração e sofrimento causam solidariedade, não inveja.


Acho que está na hora de entender que tenho o mesmo valor que todas as outras mesmo sendo diferente. Cristo morreu por nós igualmente, e isso me mostra que sou amada como sou e as outras também.


Está na hora ter um olhar generoso, não somente com as outras que falham, mas comigo mesma. Não consigo ser perfeita, e Cristo morreu por mim justamente por este motivo (Rm 5:8). Só preciso assumir isto.


Felizmente, sou criada a imagem e semelhança dele, ou seja, tenho qualidades, habilidades, as quais minhas irmãs e amigas também têm (Gn 1:26). Talvez não sejam as mesmas que as minhas, e isso é ótimo, pois soma e não subtrai na "matemática" do reino (Rm 12:4-5).


Olhar para minhas falhas e qualidades só me faz ter um conceito equilibrado a meu respeito (Rm 12:3). Não sou perfeita, sou pecadora, mas Deus me dotou de boas características, as quais me fazem ser um indivíduo único. E qualquer outra mulher também pode afirmar isto.


Sou curada da rivalidade e da inveja quando entendo tudo isso.


Este texto está na primeira pessoa, mas quis ser apenas um arquétipo para muitas mulheres, leia-o como se fosse a autora.


Por Virginia Ronchete David Perez.




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