É interessante como a maioria dos seres humanos, até os que tem medo, tem fascínio por lugares altos. A altitude parece ser algo que nos atraí. A altura traz consigo um misto de deslumbre e pavor. Eu mesmo sou alguém que tem medo de altura, porém, fico instigado com vistas panorâmicas de lugares altos. Repare se na maioria, de muitas cidades, dos roteiros turísticos tem, ao menos, um lugar alto para visitar. Ou ainda os chamados mirantes que proporcionam uma vista fascinante. Em São Paulo, por exemplo, tem o Pico do Jaraguá, a Torre do Banespa, a visto do Terraço Itália e devem ter outros mais, porém, no momento só me recordo dos mais conhecidos.
Parei para refletir sobre isso quando visitei uma cidadezinha do interior chamada São Francisco Xavier. Ao perguntar sobre as opções turísticas logo me falaram que a Pedra de São Francisco era um ponto imperdível. De imediato me senti instigado pelos comentários, mas também, pela altitude e possibilidade de uma vista maravilhosa. A atração só tinha um porém: uma subida de quase uma hora por uma estrada de terra nada agradável. Enquanto subíamos, minha esposa e eu, desviando dos buracos e desviando de obstáculos começamos a questionar se realmente valia a pena continuar e se estávamos na direção certa. Depois de quase uma hora e um carro completamente empoeirado chegamos ao destino final, também conhecido como Pedra do Porquinho, o que nos fez constatar que de fato tinha valido a pena.
Chegando lá em cima todo medo, cansaço e dúvidas haviam sumido. Os sentimentos que tomaram conta foram os de êxtase e contemplação. Lá estávamos nós no alto, vendo tudo de cima, sentindo o vento no rosto e tornando as coisas lá embaixo completamente insignificantes. Pois é, parecia que tínhamos sido criados para o alto e para ver a vida do alto. Lá no alto os problemas haviam diminuído como se não conseguissem nos alcançar lá. O coração desacelerou como que soubesse que perigos ali não chegariam. Pude ver tudo a minha volta numa vista de 360º entre montanhas, árvores e cidades. Tudo parecia em total sintonia e conformidade. Inclusive, lá no alto, era como se o céu estivesse mais perto. No entanto, a hora de descer chegou. A sensação foi completamente oposta a da subida. Descendo os problemas começaram a crescer novamente e o coração a bater mais rápido. Pois é, tinha saído do alto para voltar para baixo.
Essa experiência me levou a pensar que somos atraídos pelo alto, porque fomos criados do alto e para o alto. Quem sabe, seja por isso que a teologia chama o episódio de Gênesis 3 de queda. Estávamos em sintonia com o alto, de tal forma, que terra e céu não se percebiam distintos. Toda a vida aqui embaixo, no jardim, era pautada pela vida lá em cima, no céu, e dessa forma era como se toda a existência se desse no alto e não no baixo.
Todavia, nós caímos. Separamos-nos do alto e passamos a viver só embaixo. A partir daí o alto se tornou uma obsessão para todo ser humano. Veja se não é isso que diz o relato bíblico da Torre de Babel: Saindo os homens do Oriente, encontraram uma planície em Sinear e ali se fixaram. Disseram uns aos outros: "Vamos fazer tijolos e queimá-los bem". Usavam tijolos em lugar de pedras, e piche em vez de argamassa. Depois disseram: "Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra" (Gênesis 11:1-4).
Essa é a razão do porque somos atraídos pela e para as alturas. Nós viemos de lá e estamos voltando para lá. O próprio apóstolo Paulo nos orienta a manter a mente lá em cima, apesar de ainda vivermos aqui embaixo: Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas (Colossenses 3:2). Estando lá em cima o caminho percorrido não significava absolutamente nada. Eis aí um paralelo com a vida dos que estão indo rumo ao alto. Quando céu e terra se encontrarem novamente e toda vida voltar a ser vivida a partir do alto, nada do que tenha nos acontecido irá importar mais. Estamos destinados para coisas grandiosas demais para ficarmos ocupados com as coisas mínimas aqui debaixo.
Por Ismael Braz.
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