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O U2 e a esperança cristã

O U2 é uma das minhas bandas prediletas. E embora muitos não saibam diversas músicas tem influência bíblica e cristã. Duas músicas, em particular, me chamam a atenção. São elas: I Still Haven't Found What I'm Looking For e “40”. Ambas as músicas falam de busca e por isso me chamam a atenção. A primeira fala da caminhada, atrás de algo, por montanhas e campos. Fala sobre correr, rastejar e escalar tudo em procura de algo. No entanto, após narrar os caminhos percorridos o refrão da música afirma que: “Mas eu ainda não encontrei / O que estou procurando / Mas eu ainda não encontrei / O que estou procurando”. A segunda por sua vez fala sobre espera por algo. De acordo com a própria canção a espera é por uma nova canção: “Eu cantarei, cantarei uma nova canção / Quanto tempo para cantar esta canção?”


O U2 não é declaradamente uma banda cristã, no entanto, é popular tanto entre religiosos e não religiosos. Seja você religioso ou não terá que concordar com o U2 que nos falta algo e todos nós estamos à espera de algo. Santo Agostinho já dizia que existe uma inquietação no coração do homem. O romancista russo Dostoievski falou de um vazio que reside no coração de todos nós. De fato nos falta algo. De fato estamos sempre à procura de algo. Você há de convir que hora ou outra surge uma amargura no coração que não sabemos de onde vem. Não é à toa que as doenças da alma tem se tornado verdadeiras epidemias. Muita gente deprimida e pra baixo sem saber o que fazer pra se alegrar e se levantar.


Por outro lado, também é verdade que àqueles que se afundam em drogas, bebidas, baladas e sexo estão de igual forma em busca de algo. Gente que não sabe o porquê faz as escolhas que faz, mas, que no fundo está procurando alguma coisa que julga encontrar em todas essas realidades que prometem prazer e satisfação. O fato é que não podemos nos julgar uns aos outros, pois, todos somos vítimas de alguma determinada falta. Seja falta de atenção, falta de amor, falta de dinheiro, falta de afeto, enfim, sempre nos falta algo e por mais que não estejamos conscientes nossas ações são motivadas pelas nossas faltas.


Porém, tais músicas não são por mim apreciadas apenas por revelar a realidade da falta, mas também, por revelarem o que na verdade estamos procurando. Segundo o próprio U2 a primeira música fala sobre a busca pelo Espírito Santo e sobre a chegada do Reino. De igual modo Dostoievski conclui seu pensamento dizendo que o vazio que existe no coração do homem é do tamanho de Deus. Já a segunda música foi inspirada no salmo 40, por isso o nome “40”, que fala sobre a ação de Deus livrando do mal e colocando uma nova canção nos lábios que antes entoavam sons de lamento. É sobre esse alívio para o coração que Santo Agostinho fala quando diz que inquieto está o coração até que repouse em Deus. Deus é o que estamos procurando e o que estamos esperando.


Alguém pode até dizer que já sabia disso e que o fato de sabê-lo não traz nenhum tipo de alívio imediato. Concordo. Eu mesmo sei, e em certo porque já achei, que estou procurando e esperando por Deus mas continuo convivendo com dores e angustias profundas. Isso se dá simplesmente pelo fato de não termos terminado nossa lida ainda. Como diz um trecho da primeira canção: “sim, ainda estou correndo”. E a indagação da segunda aponta justamente para isso: “Quanto tempo, quanto tempo, quanto tempo / Quanto tempo para cantar esta canção?”. De acordo com a Bíblia o Reino e a nova canção são uma certeza. No entanto, ainda não estão plenamente entre nós. Hoje desfrutamos de parte do Reino e cantamos trechos da canção, mas, ainda não por completo.


Talvez por isso goste tanto dessas músicas. Elas são uma afirmação da nossa esperança. Nós iremos encontrar o que estamos procurando: Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido (1 Coríntios 13:12). E iremos contar uma novação: Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor ao nosso Deus (Salmo 40:5). Isso me faz lembrar a história de um casal de missionários que dedicou sua vida para o ministério transcultural. Quando já velhos, retornaram pra casa e enquanto o navio se aproximava do porto o velho missionário disse: Querida tenho certeza que quando chegarmos em casa seremos recebidos com festa depois de tantos anos no campo missionário. A velha senhora nada disse. Ao chegarem no porto viram faixas e uma orquestra montada. O velho missionário se encheu de alegria até perceber que a comitiva era pra uma celebridade que estava a bordo do navio.


O velho missionário se entristeceu, mas tinha certeza que tinham preparado uma festa de recepção em sua casa. Ao chegarem em casa a encontraram fechada e sem nenhuma festa surpresa preparada. O velho missionário bravo disse a sua esposa: vou sair para conversar com Deus. Não é possível depois de tantos anos voltarmos para casa e não sermos recebidos. Ele saiu e retornou mais calmo depois de algumas horas. Sua esposa, a velha missionária, lhe perguntou: falou com Deus? Sim. E o que ele disse? Que não chegamos em casa ainda. Quanto tempo pra chegada do Reino e para cantarmos uma nova canção? Não sei. Mas sei que não chegamos em casa ainda e isso me impulsiona a continuar a despeito das dificuldades, pois um dia estaremos em casa e então: Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem terá passado (Apocalipse 21:4).


Por Ismael Braz



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