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Antes e depois: lições de um fim de ano

O ano está quase terminando. Falta pouco mais de um dia, no momento em que escrevo, para deixarmos 2016 para trás e encararmos o incerto 2017. Confesso que meu ano não termina da melhor maneira. Nessa última semana de 2016 fui acometido de uma problema de saúde, uma gastrite aguda, que me deixou literalmente derrubado. É bem provável que receba 2017 ainda sentindo seus efeitos.


No entanto, não foi isso que falou mais alto nessa última semana do ano. Numa das crises, onde não conseguia ficar sentando ou deitado, por causa da dor, saí para caminhar. Essa foi uma maneira que encontrei de lidar com a dor e de esquecê-la por alguns instantes. Foi também a maneira que encontrei de acalmar a ansiedade que começava a querer tomar as rédeas da situação. Caminhando me veio à mente o salmo 23 que começa com o salmista Davi dizendo: O Eterno é meu pastor e por isto nada me pode faltar. Me chamou à atenção perceber que não vemos Deus como pastor a não ser quando precisamos dEle como pastor. Refleti então, que o salmo 23 não é fruto de uma teologia de gabinete, mas de uma teologia da vida.


A última semana do ano e o Salmo 23

Começo a pensar que Davi não escreveu o salmo 23 porque estava sentando numa biblioteca, cercado de comentários bíblicos e livros teológicos, pesquisando a respeito de Deus. Não. Começo a crer que o salmo 23 foi escrito porque Davi precisou de um pastor e percebeu que Deus era esse pastor. Ele prossegue dizendo: Ele me faz repousar em campos verdejantes, conduz-me a águas tranquilas. Quem sabe Davi não passou por campos secos e águas turbulentas antes de descobrir para onde Deus sempre nos conduzirá no final das contas.


Como disse, essa não foi minha melhor semana. Eu senti dor. Chorei. Quase não dormi. Me alimentei pouco. Orei e supliquei. Minha alma se abateu. No entanto, caminhando entre árvores e asfaltos. Pessoas e carros. Me veio à mente as palavras do velho Davi: Restaura minha alma; guia-me por veredas da justiça por amor de Seu Nome. Pode ser que Davi descobriu que a alma se esgota. Que ela se cansa e se esvazia mais do que gostaríamos. Todavia, a "bateria" dela é o Senhor que a faz voltar ao seu estado de origem. Davi percebeu também, que a gente se perde diversas vezes. Seja por não saber como agir diante de algumas situações ou simplesmente porque a gente não sabe conduzir a vida sozinho mesmo. Por isso, Davi viu que só Deus pode nos guiar de verdade.


Avançando em minha saga cheguei ao trecho do salmo que ficou mais tempo em minha mente enquanto caminhava: Ainda que eu siga pelo vale das sombras da morte, nada temerei, pois Tu, estarás comigo; Teu cajado e Teu bordão me darão apoio e conforto. Por que essa parte martelou mais em minha mente? Pelo simples fato de ninguém querer passar por um desfiladeiro escuro e denso. O termo utilizado por Davi pode ser traduzido também por depressão. Sabe aquele momento escuro da alma? Então, é disso que estou falando. Ninguém quer chegar a esse momento. Mas, o fato é que ele chega. Chega em forma de doença, adversidade, luto, tristeza, enfim, ele chega. E quando ele chega parece que ele não vai passar nunca. Acho que é disso que Davi está falando.


Deus não cura sempre, mas está sempre com suas ovelhas

Nessa semana que estive doente, eu orei, mas Deus não me curou no momento em que orei. Ele não me curou nem mesmo nos dias seguintes a minha oração nos quais continuei orando. Ele não me curou milagrosamente enquanto estava no chão gemendo de dor ou diante do vaso sanitário colocando pra fora as refeições feitas durante o dia. Na verdade, ele não me curou por completo nem mesmo no instante em que escrevo essas linhas. “Ué, que louvor esse pastor merece então?” “Pois é, religiosos são tontos, ele não curou porque ele não existe”, pode ser que alguém diga. Mas, creio que Davi está falando que a existência de Deus e seu pastorado não implicam, somente, em livramentos miraculosos, porém, implicam, muito mais, em sua presença constante. Quando Davi escreve ele sabe que existem vales que as ovelhas entram por teimosia e outros porque são inevitáveis, entretanto, como pastor, ele também sabe, que onde quer que a ovelha vá Ele vai junto.


Como disse Deus não me curou miraculosamente, mas esteve presente irrevogavelmente. Seja nos momentos em que caminhava e ouvia o salmo 23 em minha mente. Seja nos cuidados de uma esposa atenciosa ou de uma mãe mandando mensagem de minuto em minuto. Seja nas horas em que recebia mensagem de irmãos e irmãs dizendo que estavam orando por mim. Seja até no momento, em que inexplicavelmente, uma irmã fala sobre um lugar que conseguiria consulta e no final o único médico atendendo, em pleno final do ano, era um gastro. Seja através de uma amiga estudante de medicina me “atendendo” e tranquilizando a distância. Enfim, essa semana o Senhor foi o meu pastor e fez questão de me lembrar disso.


O ano está acabando e o que concluo dessa última semana? Que Deus continuará sendo pastor. Eu não faço a mínima ideia do que 2017 trará, mas uma certeza eu tenho: seja o que for o Senhor, o meu e o seu pastor, estará lá para nos guiar, apoiar e confortar. 2017 pode ser um ano de falta, no entanto, algo não faltará: o pastoreio do Senhor. Quem sabe, ao invés de desejarmos que não falte amor, dinheiro, esperança no novo ano, devemos desejar que não falte o pastoreio do Senhor. Até porque, no final das contas, nós os que cremos sabemos que a nós resta a esperança final de Davi, esperança essa que acredito ter vindo pelos olhos da fé: Certamente a bondade e a misericórdia me acompanharão por todos os dias de minha existência. E, por todo o sempre, habitarei na Casa do Eterno.


Sendo assim não termino desejando feliz ano novo, mas sim: o Senhor é o nosso pastor. Foi antes de 2016 e será depois.


Por Ismael Braz


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